Review by Carlos Merigo ★★★½
Superior ao primeiro em ritmo e peso dramático, The Amazing Spider-Man 2 se beneficia da fidelidade quase sacra do diretor Marc Webb aos quadrinhos.
É a primeira vez, aliás, que me sinto convencido de que a franquia merecia mesmo um reboot tão precoce, já que vemos o herói se comportar e agir de maneira que nenhum fã poderá reclamar, algo que nunca foi unanimidade da trilogia dirigida por Sam Raimi. Ver o Homem-Aranha em ação agora, por sua vez, é como ler uma HQ da Marvel saída diretamente da década de 1960.
A química entre Andrew Garfield e (a bela) Emma Stone é responsável por grande parte do carisma da história, capaz de fazer o espectador se importar genuinamente com o futuro do casal (mesmo que já se conheça o papel de Gwen Stacy nas HQ's).
Esse é um terreno seguro para Marc Webb (500 Dias Com Ela), vale lembrar, que sabe bem como arrancar suspiros com momentos românticos doces e bem humorados.
O avanço da tecnologia nos últimos anos também faz bem ao Homem-Aranha. Enquanto as cenas de ação do filme anterior soavam genéricas e desinteressantes, agora temos empolgantes sequências que aproveitam, de fato, Nova York como um playground de efeitos digitais. Destaque para o embate com Electro na Times Square.
Cenas do tipo bullet time (ou frozen time, flow motion, time slice, chame como preferir) podem soar como um recurso cansado, já tanto utilizadas pelo cinema na última década, mas aqui servem para representar muito bem o Senso Aranha do protagonista. Ainda que o 3D não seja criativo, investindo constantemente em objetos atirados em direção da tela, Webb busca alguma profundidade em cenas específicas.
O maior problema de The Amazing Spider-Man 2 está no excesso de vilões e narrativas paralelas redundantes, que enfraquecem os eventuais perigos e nos deixa com a sensação de déjà vu, principalmente nas sequências de origem de personagem, repetindo os mesmos erros cometidos pelo desastroso Homem-Aranha 3 (2007).
O Electro de Jammie Fox tem um início interessante com sua personalidade obsessiva, mas jamais é desenvolvido plenamente, e suas motivações são alteradas em segundos apenas para satisfazer as decisões do roteiro de Alex Kurtzman, Roberto Orci e Jeff Pinkner. É estranho que o vilão seja posicionado na campanha de marketing como o principal antagonista do filme, já que isso fica longe de se concretizar ao longo da trama.
Dane DeHaan, por outro lado, merece destaque ao retratar Harry Osborn/Duende Verde como um vilão mais perturbado e convincente do que a atuação anterior de James Franco, ainda que nada de novo seja introduzido ao personagem. Paul Giamatti também rouba a cena em suas aparições, incluindo uma que fará o seu coração parar por alguns milésimos de segundo. Fez o meu.
Outro incômodo, porém, é a representação de Peter Parker como um ser praticamente indestrutível. E já que não sofre arranhões nem após surras monumentais com objetos pesados que caem sobre sua cabeça, tão logo não se importa ao atravessar uma avenida com carros em alta velocidade. Sabemos que o herói não vai morrer, mas a vida dele poderia ser menos facilitada.
Abrindo diversas frentes e ampliando o universo do Homem-Aranha, a Sony claramente parece estar construindo uma franquia longa, pensando em larga escala e deixando espaço para que novos filmes (e produtos) completem as pontas soltas.
Spider-Man 2 (2004) ainda é um sarrafo alto para os filmes da Marvel, mas, mesmo com as suas falhas, The Amazing Spider-Man 2 finalmente soa como o momento certo para guardar o passado em uma caixa, e se sentir mais leve enquanto deixa tudo pra trás. Um conselho que Tia May sabiamente também dará para Peter Parker.